O filme "Índios, memória de uma CPI" é um média metragem de 32 minutos de duração que utiliza o material cinematográfico que documentou a histórica Comissão Parlamentar de Inquérito, realizada pela Câmara dos Deputados em 1968 e que investigou a situação dos povos indígenas. A CPI do Índio, como na ocasião ficou conhecida essa iniciativa da Câmara Federal, foi a primeira Comissão de Inquérito (CPI) que saiu do prédio do Congresso para fazer suas investigações in loco. Inicialmente foram pensadas cinco viagens para regiões onde mais se agudizavam os conflitos entre índios e as frentes pioneiras. Fui convidado por Olympio Serra, o antropólogo assessor da CPI, para documentar as viagens dos deputados. Contando com a colaboração direta da Universidade de Brasília, com uma câmera Arri/16, do Hospital Distrital de Brasília e um Nagra do Smithoniam Institute, eu, fotografando e dirigindo, e Fernando Almeida, fazendo o som, filmamos as duas viagens que a CPI conseguiu realizar até o fatídico dia de 13 de dezembro de 1968, dia do AI-5. Na primeira viagem, aos estados do Pará, Goiás e Maranhão, contamos com a presença de Maurice Capovilla, que na época colaborava na reestruturação do Departamento de Cinema da Universidade de Brasília, e muito auxiliou nas primeiras filmagens do documentário. A CPI foi interrompida pelo AI-5, vários dos seus membros foram cassados, inclusive o seu relator o Dep. Marcos Kertzmann, e não concluiu os seus trabalhos. O filme também sofreu as consequências da brutalidade política: os negativos e o som me foram tomados. Estava adiada a primeira tentativa do cinema brasileiro em colocar a questão do índio como problema social e político, antes toda a cinematografia indígena era etnográfica. Anos mais tarde viria o pioneiro "Terra dos Índios" de Zelito Viana, "Uirá" de Gustavo Dahll e mais tarde o "Mato Eles" de Sérgio Bianchi. Ficou adiada também, a minha estreia num filme de fatura semi profissional. Anos se passaram e nunca aceitei a violência política de que fomos vítimas. Finalmente consegui, quinze anos depois, reaver os originais de imagem e som de forma rocambolesca, mas isso já é outro filme. A colaboração da TV CÂMARA foi determinante na finalização do filme, em 1998, ano em que a Camapanha da Fraternidade tem a questão indígena como tema. E, que esse filme participe da continuada, diária, luta contra o preconceito e pelo respeito às diferenças étnicas. Hermano Penna