O francês Paul Valéry (1871-1945) é mais conhecido como poeta, mas deixou uma contribuição importante para o gênero ensaio com o seu livro Variedades, publicado em 1944, onde mostra a sua ampla área de interesses, que vai da filosofia à matemática, e o gosto pelo texto artesanal, onde cada palavra é lapidada para fazer o sentido esperado. "A gente pode dizer que há um Valéry poeta, especialmente no começo e que depois que vai retomar isso a partir dos anos 1920, e temos esse pensador que está começando a ser conhecido dos cadernos que ele escrevia e dos seus manuscritos privados, que é o Valéry dos ensaios", comenta o professor de Teoria Literária da USP, Roberto Zular. Valéry colocou poemas como Cemitério Marinho, A Jovem Parca, A Serpente e o Pensar entre os poemas mais importantes do século 20.Tanto nos poemas quanto nos ensaios, o valor da palavra, do texto trabalhado artesanalmente saltam aos olhos do leitor mais atento. "Ele tinha fascinação pelos trabalhos artesanais, longamente construídos. Ele achava que a arte deveria manter essa áurea, não poderia virar uma técnica. Na verdade, juntar técnica e artesanato, forma e sentido, som e sentido era a junção que importava para o Valéry. Essa junção do que há de mais formal com o mais afetivo e ligado à experiência concreta", diz Zular. O francês também influenciou uma série de poetas brasileiros, como Mario de Andrade, que já reconhecia no poeta francês seu espirito moderno, Drummond, João Cabral de Melo Neto, Augusto de Campos, leitor e tradutor de Valéry, e Waly Salomão. Com todas essas influências, não fica difícil entender uma das frases marcantes de Valéry: "O poema tem que ser uma festa do intelecto".