Vocês querem saber qual é o estado de espírito, qual o sentimento dos índios Guarani-Kaiowá, Terena, Munduruku... neste momento? O depoimento de Elpídio Pires, do povo Guarani-Kaiowá, nos traz, num desabafo sofrido e sincero, um retrato desse sentimento: após descrever a expropriação e o martírio a que tem sido submetidos de maneira invisível ao país, ele encerra sua fala com uma mensagem clara: "Basta, não podemos esperar mais nada, vamos retomar o que é nosso!". Os índios estão sacrificando suas vidas pelo resgaste de sua dignidade, dos seus direitos e de alguma esperança para os seus filhos. Há trinta anos que eu ouço eles declararem após cada expulsão: "Eu vou voltar, porque essa terra é nossa, se quiserem me matar, podem me matar". E foi essa mesma declaração do acampamento de Puelito Kuy que, interpretada como o anúncio de um suicídio coletivo, comoveu parte da sociedade brasileira no final do ano passado. Elpídio Pires prestou este depoimento no dia 28 de maio deste ano (2013) perante vários membros da Aty-Guasu, Assembléia Geral dos Guarani-Kaiowá, e Marcelo Zelic, do grupo Tortura Nunca Mais e assessor da Comissão Nacional da Verdade. Indignados com as inverdades propaladas tendenciosamente pela mídia, e em estado de choque com a sucessão de assassinatos que ocorreram desde a morte do cacique Nísio, no final de 2012, decidimos percorrer algumas aldeias Guarani-Kaiowá para entender o momento e produzir um documentário capaz de trazer à tona testemunhos que possam restabelecer de forma contundente a verdade dos fatos. Diante da urgência destes esclarecimentos, resolvemos antecipar pela internet capítulos do documentário que o Vídeo nas Aldeias está produzindo sobre o tema e que terá o nome "Martírio". Vincent Carelli / Vídeo nas Aldeias www.videonasaldeias.org.br