Militarização do Ensino - Jornal Futura - Canal Futura

submitted by TV HUMANA on 09/23/14 1

Os problemas da militarização da educação e da sociedade civil na opinião do professor do Departamento de Segurança Pública da Faculdade de Direito da UFF Roberto Kant (Jornal Futura - 06/08/2014) Roberto acredita que a militarização tem dois aspectos a serem analisados. O primeiro é instrumental: a necessidade da formação de uma defesa nacional que trabalhe com a ideia de inimigos, e promova a formação de militares que compreendam o “algo a ser derrotado”. O segundo aspecto se refere às consequências desse processo, em muito baseado na hierarquia e na disciplina. É o “obedecer automaticamente”, sem questionar, sem argumentar. Isso faz com que essas estruturas formem pessoas que considerem as hierarquias como inquestionáveis. Quem não pensa assim é combatido por essa estrutura, é o chamado “inimigo” do sistema. São os “problemas” que fogem à regra, e que precisam ser disciplinados. Convicções particulares não são aceitas nesse processo. É preciso se encaixar e não ser diferente. Com o tempo, as pessoas vão internalizando culpas, vigiando-se e punindo-se, como já diria Foucault no livro “Vigiar e Punir”. Isso torna a sociedade normalizada e controlável. O que é interessante para determinados grupos hegemônicos. Os grupos que criam padrões a serem seguidos. Isso, no entanto, é muito problemático e questionável. Se enquadrar em padrões não pode ser uma regra. As pessoas têm o direito de viver suas diferenças, de expressar suas opiniões, de contribuir com debates na decisões, na vivência de processos. Os mecanismos utilizados pela segurança pública no Brasil são fundados na repressão para combater esses desvios de padrão. Não entendem a importância de administrar os diversos conflitos, e entender o quanto eles podem ser saudáveis para uma formação social completa. Para alguns, é interessante acabar com o conflito. Isso é visto na prática, na atuação da polícia militar nas ruas. Não é uma polícia que conversa, que se abre para diálogo. É uma instituição que reprime. Uma questão que pode fazer esse processo ser um ciclo é a promoção de um ensino militar. A escola é formadora, é responsável também pelo caráter. Ali, formam-se pessoas para uma vivência social. O problema é que a inserção de uma disciplina altamente regrada e padronizada impedirá o diálogo e a compreensão de multiplicidades. Esses alunos serão pessoas, profissionais, pais, mães – que lidam com outros seres humanos. É como se um padrão fosse reafirmado a cada aula dada, e cada ser diverso também fosse reprimido no futuro. Para uma sociedade plural, isso é muito comprometedor, e trará consequências terríveis. No que se refere aos bons resultados em provas e avaliações, o ensino militar tem sucesso, mas em métodos totalmente arcaicos de avaliação de alunos. São questões que medem conhecimentos específicos, sem tornar aquilo multidisciplinar, que obrigam os alunos a estudar certos conteúdos fixos em detrimento dos processos, argumentos e debates. Com a militarização das escolas, caminha-se para uma militarização da sociedade civil – um espaço em que o diferente, o debate e a oposição nunca serão aceitos.

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